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Passinho brega-funk: A cultura popular de Pernambuco que ganhou o Brasil

17 de Setembro de 2019 | Música Bregafunk Cultura Popular

Reprodução

O passinho é uma manifestação cultural das periferias do estado de Pernambuco, entretanto adquiriu mais força na cidade de Recife. Em agosto de 2018, a dupla musical de Brega-Funk Shevchenko e Elloco lançou a música “Gera Bactéria” e o clipe no youtube. O refrão da canção afirma a sua origem “Esse passinho é novo/Nasceu lá na favela”. Os cantores são os pioneiros no ritmo do passinho, o qual é diferente dos antigos sons do Brega-Funk.

Já o grupo de dança Magnatas do Passinho S.A, do bairro Santo Amaro no Recife, foi a primeira formação masculina a gravar as coreografias das músicas e, também a organizar a primeira batalha de passinho, no mês de outubro de 2018 na praça 13 de maio em Recife.

No verão de 2019, o passinho se espalhou para todo o nordeste. A música “Barulho da Kikada”, dos MC’s Niago, Seltinho Coreano e MC Reino, viralizou no youtube com a coreografia dos Magnatas do Passinho S.A. Desde esse hit, o passinho não saiu das caixas de som dos jovens. No carnaval de 2019, o grande sucesso foi “Tome na Pepeka” dos MC’s Lucy, Biel Xcamoso, Shevchenko e Elloco.

A hegemonia cultural, é um conjunto de ideias dominantes de uma determinada conjuntura social, política, cultural e econômica. Na sociedade brasileira, a hegemonia cultural musical que ainda impera, é a Música Popular Brasileira (MPB), adorada pela elite e aclamada pela classe média. Mas pergunto, a MPB é popular para quem?

Com a ascendência do ritmo, críticas começaram a surgir. Alguns afirmam que as letras incentivam a “marginalização”, outros dizem que as mulheres são extremamente sexualizadas e alguns problematizam o fato de crianças dançarem o passinho. Mas um fato é indispensável para o debate, o relativismo cultural. Precisamos, antes de tudo, não julgar a cultura do outro a partir da nossa própria visão e experiência.

O passinho, também é cultura. Que atualmente, emprega várias pessoas da periferia, que gera renda para o estado de Pernambuco, que possibilita sucesso, dinheiro e fama para quem sonha com a carreira. Mas ainda é marginalizada e deslegitimada pela hegemonia cultural brasileira.

A prova cabal, é o caso dos cantores Shevchenko e Elloco. Por meio do IGTV, no Instagram, Shevchenko fez um desabafo sobre o episódio em que passou no dia 7 de junho de 2019. Conta, que os contratantes do evento não cumpriram o horário do seu show, ele foi reclamar e um dos produtores da empresa contratante o chamou de “maloqueiro safado”. Podemos notar que mesmo tendo fama e reconhecimento, os artistas do Brega-Funk ainda são invalidados.

Um Projeto de Lei (PL) da deputada estadual Clarissa Tércio, quer criminalizar o passinho. O PL proíbe o passinho nas escolas públicas de Recife. Porém, Shevchenko e Elloco e Maneiro na Voz lançaram a música “Passinho não é crime”, na letra os cantores afirmam que o passinho é uma manifestação cultural pernambucana como o Maracatu, o Frevo e Caboclinho. E que não é criminosa, afirmam “Respeita os moleques do passinho/Não sou bandido, não sou traficante/ Só quero mostrar a cultura para o Brasil”.

Aos poucos o passinho vem ganhando espaço, no dia 5 de setembro de 2019, o projeto de extensão Bregaço, promoveu o primeiro simpósio de Passinho Brega-Funk na Universidade Federal da Paraíba. Os convidados para ministrar as oficinas de dança e supervisionar a batalha de passsinho, foi o grupo “A Tropa M7”, do bairro Mangabeira 7, em João Pessoa, que é responsável pela batalha de passinho mais consagrada da capital.

O evento permitiu que a periferia ocupasse a UFPB, trazendo a cultura periférica para dentro dos muros academicistas, classistas e racistas. Incomodando muitas pessoas, provando que a manifestação cultural é necessária tanto para promoção dos jovens, como para desmistificar e acabar com o preconceito em torno dela.

Passinho Brega-Funk é cultura, você gostando ou não. Respeita o passinho!

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Fonte: https://medium.com/@iasminsoares/passinho-brega-funk-a-cultura-popular-de-pernambuco-que-ganhou-o-brasil-9632f3377c1c